sábado, fevereiro 10, 2007

Uma caminhada de amor

Há coisa que não dispenso quando me desloco por cá [Luanda], uma boa caminhada. Foi o que fiz hoje [5 de Fev.], uma invasão na terra poeirenta desde o bairro da Lixeira até ao bairro do Mota.

Caminhando sobre este sol arrasador e clima abafado, mas ultrapassando isso, fui sempre com um sorriso na cara. Aproveitei para cumprimentar mamãs e papás (que ainda não conhecia, pois esse caminho não faz parte das minhas andanças), sorrir com as crianças e para elas ( cumprimentam com uma palavra tão singela de quem não lhes quer fazer mal nenhum: “Amigo?”).

É um caminho cheio de altos e baixos, com buracos fundos e zonas planas, contendo lixo tanto do lado esquerdo como direito… Que importará isto?

São muitos os que fazem a sua vida durante o dia fora de casa, ou melhor, junto à porta de casa. É uma imensidão de pessoas, jovens e crianças. Uns jogam futebol; outros enconstam-se à parede apanhando a pouca sombra que têm; outros com as suas barraquinhas vendem principalmente gasosa, cerveja,… É o refúgio para alimentar quem vive no lar.  

Todos dizem ser perigoso andar sozinho pelo bairro, e é verdade, mas, se vivermos todos com medo, nunca avançaremos na confiança de Deus. Eu caminho na confiança e, quero mostrar como a vivo. Afinal, acima de tudo, sou testemunho de Cristo,e faço-o por isso. Tudo correu bem e cheguei ao destino na paz que Deus queria para mim naquele momento.

[9 de Fev.]

Depois de almoçar na Delegação Salesiana, onde trabalho, vim até casa, na paróquia. Tomei um banho de água fria para suportar a caminhada que ia fazer. Ia trabalhar para o bairro da Lixeira. No entanto, ainda exitei em apanhar o Candongueiro ou ir a pé, e levei dinheiro de reserva caso mudasse de ideias pelo caminho. Mas fui, fui… cheguei ao Mota sem problemas, já bem transpirado. Aí, cumprimentei os meninos da casa Magone  e da Mamã Margarida. Disse-lhes que depois passaria à noite, com mais calma. Tinha de estar às 14h00 na Lixeira e já ia um pouco atrasado. Fui penetrando nos bairros, e quase na saída do Mota, sou abordado por uma rapariga que eu já tinha conhecido em Agosto, e ela disse o meu nome e tudo. Muito simpática, e ali estive a falar um pouco com ela. Tenho que arranjar tempo para estar com as pessoas… e não apenas estar fechado num local. É, também, por isso que gosto destas caminhadas.

Passando o Estádio do Progresso, ainda em construção [e já lá vai muito tempo], um rapaz diz-me:  tem que usar chapéu, este calor faz mal”. Impressionou-me a sua preocupação, e a sua chamada de atenção. Um pouco mais à frente, olho para um grupo de rapazes que sobre uma sombrita também me olham fixamente. Dou mais alguns passos, e eles assobiam e chamam-me ”branco”. Eu começo a falar com eles, interpelando-os se estava tudo fixe, dizendo que sim; depois, pedem-me dinheiro para gasosa, onde lhes disse negativamente que não tinha… apalpei os bolsos e tudo. Quando ando sozinho, vou sempre limpinho de tudo, dinheiro, chaves, telemóvel... Mas, depois respondi-lhes que se tivesse não me importava de tomar uma com eles. Ficando por aqui, avancei, e quase chegando ao destino, estavam três rapazes conversando e disse-lhes um olá, e retorquiram “vais ao Dom Bosco? (apelidam o local dos salesianos na Lixeira de Dom Bosco). Disse que sim. Perguntaram também se vinha de São Paulo, e ao dizer-lhes que sim, disseram “a pé?”(cara de espanto). Apresentei-me e eles também. De seguida, fui ao CEFAS (Centro de Saúde), onde trabalha a Irmã Donária (Ir. Sacramentinas). Fui ao gabinete dela, e estava com uma cara muito pálida, de cansaço e magrinha. Questionando-a, ela disse, que estava com Paludismo e Febre Tifóide. Espero que ela melhore. Por fim, cheguei ao Dom Bosco, feito em água.

 

Podia dizer muito mais, mas queria reflectir nos acontecimentos desta caminhada, uma caminhada de amor. Os caminhos de Deus são infinitos, assim como as suas provações.

Pode-se ler, escutar, , mas nós, como seres únicos, também vivemos na unicidade de cada um. Eu sinto, os outros sentem, mas nunca a causa-efeito será a mesma. 

 

na paz de Cristo crucificado

Pedro Barros

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